sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Maria a Nova Eva

Por Hélio Maria, Inútil Escravo de Maria Santíssima

             Muitas vezes ouve-se dizer que Maria Santíssima é a mulher do Gênesis ao Apocalipse. Isto é verdade, pois, no primeiro livro da Sagrada Escritura que é o “Livro do Gênesis” tem-se o relato da criação do mundo, da amizade de Deus com o casal Adão e Eva, da queda deste mesmo casal e a consequência do pecado, que não foi uma consequência pessoal somente para o casal, mas sim para todo o gênero humano. Por isso alguns dos Santos Padres usaram o Livro de Gênesis para dizer que a Santíssima Virgem é a nova Eva.
                  
Nota-se então que Deus começa a realizar o seu plano salvífico para o resgate do homem. Já que uma mulher contribuiu para a queda do gênero humano, outra mulher contribuirá para a salvação do mesmo gênero. Deus usa uma forma de recapitulação, o que houve na queda, haverá também na restauração. Este termo de recapitulação foi usado muito por Santo Irineu de Lião baseando-se no Apostolo Paulo (Rm 5, 18 – 19) que também usou o termo de recapitulação como, por exemplo, para dizer que Jesus Cristo é o novo Adão:

Por conseguinte, assim como pela falta de um só resultou a condenação de todos os homens, do mesmo modo, da obra de justiça de um só, resultou para todos os homens justificação que traz a vida. De modo que, como pela desobediência de um só homem, todos se tornaram pecadores, assim, pela obediência de um só, todos se tornarão justos.

                  É assim que Santo Irineu de Lião usa o termo de recapitulação. O que houve na queda, Deus recapitula na historia da restauração.
                  Na queda houve um anjo (Lúcifer), uma virgem (Eva) que acredita no anúncio do anjo e um homem (Adão) que desobedece a Deus. Na restauração houve também um anjo (Arcanjo Gabriel) e uma virgem (Maria) e um homem (Jesus, novo Adão) que é obediente a Deus até a morte e morte de cruz.
                  O Apostolo São Paulo diz em I Timóteo 2, 14 “Não foi Adão que foi seduzido, mas a mulher que, seduzida, caiu em transgressão”. Assim como pecado começa em Eva e será consumado em Adão, assim quis Deus que a restauração do homem começasse em Maria Santíssima e fosse consumado no novo Adão que é Jesus Cristo.
                  Eva desobedece a Deus e entrega o gênero humano ao Demônio, Maria Santíssima pela sua obediência o consagra a Deus. Maria Santíssima desde o século II foi colocada em paralelo com Eva, alguns dos Santos Padres da Igreja como Santo Ireneu, São Justino se utilizaram deste paralelismo (DM, p. 1006).

O homem destrói, Deus reedifica; o homem peca, Deus salva; o homem introduz a morte, Deus restitui a vida [....] Por meio de Eva «ainda virgem» cai Adão; por meio de Maria, «ainda virgem», nasce Cristo, Deus encarnando: Eva ainda virgem e incorrupta, concebeu a palavra da serpente e deu à luz a desobediência e a morte. Maria, ao invés, a Virgem acolhendo com fé e alegria o que o anjo Gabriel lhe anunciou – a boa nova -..., respondeu: “faça-se em mim segundo a tua palavra”.

                  Este paralelismo também foi usado de maneira bem forte nos argumentos de São Justino que respondia algumas perguntas da época, como por exemplo: Porque Deus nasceu de uma virgem?  Porque Deus se fez homem? “São Justino era um Filósofo que mostrou para os pagãos que Cristo é a realização de toda a filosofia Verdadeira” (DM, p. 1005).
                  Nota-se de maneira clara que São Justino também usa o termo de recapitulação para falar do plano salvífico de Deus para todo o gênero humano. Ele deixa claro que as duas mulheres foram responsáveis na historia da humanidade. No caso de Eva foi a morte e no de Maria Santíssima foi a vida.
O dicionário de Mariologia (p. 1006) aponta:
Assim, Eva e Maria – duas mulheres, duas virgens – são consideradas responsáveis pela historia humana, ao lado e de modo subordinado aos dois homens-cheves e cabeças da humanidade, Adão e Cristo: Eva com satanás, Maria com Deus; Eva responsável pela morte, Maria pela vida.

                  Todos estes argumentos de São Justino foram utilizados por Santo Irineu que segundo o Dicionário de Mariologia “alguns definiram como o pai da mariologia” (p. 1006). Em Santo Irineu este termo de recapitulação foi utilizado no seu tratado contra as heresias. Irineu mostra que Maria Santíssima é a nova Eva e que ela é o contrario de Eva e que se Eva colaborou para a perda do homem, Maria Santíssima colaborou com Deus para a salvação do homem. Lê-se em Contra as heresias, V, 19,1, p. 569:
A sedução de que foi vitima, miseravelmente, a virgem Eva, destinada a um varão, foi desfeita pela boa-nova da verdade, maravilhosamente anunciada pelo anjo à Virgem Maria, já desposada a varão. Assim como Eva foi seduzida pela fala do anjo e afastou-se de Deus, transgredindo a sua palavra, Maria recebeu a boa-nova pela boca do anjo e trouxe Deus em seu seio, obedecendo à sua palavra. Uma deixou-se seduzir de modo a desobedecer a Deus, a outra deixou-se persuadir a obedecer a Deus, para que, da virgem Eva, a Virgem Maria se tornasse advogada. O gênero humano que fora submetido à morte por uma virgem, foi libertado dela por uma virgem.

                  Santo Irineu também em Contra as heresias III, 22,4, p. 352 mostra que Maria Santíssima pela sua obediência desatou o nó da desobediência de Eva:

Com efeito, o que está amarrado não pode ser desamarrado, a menos que se desatem os nós em sentido contrário ao que foram dados, e os primeiros são desfeitos depois os segundos e estes, por sua vez, permitem que se desfaçam [...] Da mesma forma, o nó da desobediência de Eva foi desatada pela obediência de Maria, o que Eva amarara pela sua incredulidade, Maria soltou pela sua fé.

                  Santo Irineu ao explicar este termo de recapitulação ele se utiliza da genealogia do Senhor apresentada no Evangelho segundo São Lucas que no lugar de apresentar a genealogia começando por Abraão e terminar em Jesus Cristo, como é apresentado por São Mateus, ele começa com Jesus Cristo e vai até Adão (Contra as heresias III, 22,3, p. 351).

Por isso São Lucas apresenta genealogia de setenta e duas gerações, que vai do nascimento do Senhor até Adão, unindo o fim ao princípio, para dar a entender que o Senhor é o que recapitulou em si mesmo todas as nações dispersas desde Adão, todas as línguas e gerações dos homens, inclusive Adão.

                  Ressalta-se o que diz a Santa Igreja por meio do Concílio Vaticano II na Constituição Dogmática Lumen Gentium nº 56:

Com razão afirmam os Santos Padres que Maria não foi instrumento meramente passiva nas mãos de Deus, mas cooperou na salvação dos homens com fé livre e com inteira obediência. Como diz santo Irineu, “pela obediência, ela tornou-se causa de salvação”.[1] E não poucos padres antigos, na sua pregação, comprazem-se em repetir: “O laço de desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria; o que a virgem Eva atou com sua incredulidade, a Virgem Maria desatou-o pela fé”.[2] Comparando-a com Eva, chamam a Maria “Mãe dos viventes” [3] e afirmam com frequência: “A morte veio por Eva, e a vida por Maria”.[4]

      É desta maneira que Maria Santíssima faz parte da historia da salvação. Já que uma mulher contribui para a queda, agora outra mulher ira contribui para restauração do homem. Realmente Maria Santíssima é a Nova Eva. Quando o Arcanjo Gabriel no momento da Anunciação à Santíssima Virgem diz: “Ave”. Se, se escreve “Ave” de trás para frente, tem-se “Eva”. Deus mudou o nome de Eva para Ave porque Maria Santíssima além de ser a Nova Eva é o oposto daquela que, pela desobediência, entregou o gênero humano ao Demônio, a Santíssima Virgem pela sua obediência o entregou a Deus.
Gênesis
Lucas
Eva
Ave

                  Deus preparou esta mulher que deviria ser o oposto de Eva, já que Eva o desobedece, Maria irá obedecer a Deus com o seu sim. É neste sentido que a Igreja fala da predestinação de Maria Santíssima.

Autor - Hélio Inútil Escravo de Maria Santíssima

[1] Santo Irineu.
[2] Santo Irineu.
[3] Santo Epifânio.
[4] São Jerônimo.

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